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domingo, 24 de julho de 2011

*Anjo Negro* Cap. II



A Svetlana recordava-se do dia em que conhecera o Anton, numa tarde fria de Inverno no centro de Moscovo. Em que os flocos de neve enfeitavamm as ruas por onde passava.
Tinha entrado num bar com a sua amiga Olga para beber um copo de vinho quente e colocar os assuntos em dia.
Entrara um homem, enquanto as duas riam e brindavam com os copos. Era bem-apessoado com um sobretudo negro e um olhar…
Ele tinha-as observado e sentou-se ao balcão olhando para as jovens que conversavam. Olga sorriu e começou a dar cotoveladas a Svetlana, por aquele mesmo homem estar a observa-la de forma tão peculiar.
Após uns copos de vinho e de ter aquecido mais o corpo, porque os Invernos em Moscovo são bastante rigorosos, ela avançou em direcção ao homem de sobretudo e encarou-o com um olhar atrevido e um sorriso insinuante.
- Pagas-me um copo? - Perguntou Svetlana com o maior descaramento, ainda hoje se perguntava quantos copos teria bebido…
- Não! Não pago bebidas a jovens… - disse Anton com um sorriso gélido.
Quando Svetlana preparava-se para ir embora, ele agarrou-a por um braço mostrando a sua força e beijou-a. Ela ficou surpreendida, aquele mesmo homem que não lhe queria pagar uma bebida tinha-a beijado!
Os seus joelhos tremeram, deixou-se cair em seus braços quando ele a largou e abandonou o bar.
E durante uma semana ela pensou várias vezes no que acontecera, achando que não o voltaria a ver.
Estava em casa de sua mãe, enquanto aguardava pela sua chegada. A sua mãe fazia anos e Svetlana tinha comprado um pente lindíssimo em prata. A sua mãe tinha uns cabelos longos, fora do comum, negros e uns olhos claros como a água.
Recebera uma chamada, era Olga que lhe ligava a dizer que tinha ocorrido um acidente e sua mãe tinha morrido. Svetlana correu em direcção à morada dada por Olga.
Quando chegou encontrou Anton, qual não foi o seu espanto, ele era um policia que estava a investigar a morte e o acidente da sua mãe. Corou ao olhar o polícia, e lembrou-se que sua mãe encontrava-se ali estendida coberta com um lençol branco.
As lágrimas cobriram-lhe o rosto, agarrou-se a Olga e soluçava sem conseguir levantar a cabeça. Pediu para ver a mãe, estava pálida, e os seus olhos cor de água ainda se encontravam abertos, o cabelo negro estava agora com um tom escarlate misturado do sangue que escorria na testa.
Tinha mais um ferimento, no braço! Tinham-lhe dito que sua mãe, tinha-se tentado proteger do vidro quando embateu contra o armazém. E tinha perdido aí muito sangue.
Desde então começou a desabafar com o Anton, a encontrarem-se mais e a apaixonaram-se.
O gancho que lhe tinha sido oferecido no dia anterior da morte de sua mãe tinha desenhado um lobo dourado. E desde então Svetlana andava sempre com ele.
Enquanto a sua vida vazava, Svetlana recordou-se do gancho e murmurou a palavra L-o-b-o…
Anton rosnou, e quando Svetlana abria e fechava os olhos ao rever a imagem daquele homem que tinha amado, ele desaparecia mais o seu clã por entre as portas da velha Igreja.
Acordou no Hospital, o médico olhava para ela observando o corte no braço e murmurando algo que não entendia. Quando veio até si, estava zonza, olhou em redor do quarto e via Olga, as lágrimas cobriram-lhe o rosto quando viu sua amiga com um ar preocupado.
O médico chamava-se Nikolai, depois de sair do Hospital tinham ficado amigos e nunca mais tinha revisto Anton.
Numa noite fria de Moscovo, encontrava-se em casa a remoer sobre a sua vida nos últimos tempos, até que bateram à porta. Espreitou para ver quem era, quando o sangue começou a pulsar, a pulsar, a pulsar…
Bateram de novo, agora com mais força! Era Anton!
- Svetlana sei que estás aí abre a porta, ou abro eu! – disse ele com um ar irritado, rosnando a voz. Os olhos ainda estavam mais negros que o habitual.
Svetlana recordou-se da imagem de Anton a deliciar-se com o seu sangue e sentiu-se enjoada…
Bateram outra vez, desta parecia que iam partir a porta!
- Eu vou abrir, mas… - disse com um tom de apreensão.
- Abre ou abro eu! Se te quisesse matar, não me teria ido embora… - disse Anton, com um ar de malícia e um sorriso gélido nos lábios.
Ela abriu a porta, e Anton entrou com o seu andar calmo de predador.
Quando deu conta, ele estava em cima de si no sofá, olhando com os seus olhos negros lambendo os lábios vermelhos. Sim, os seus lábios eram vermelhos como o sangue e Svetlena nunca tinha reparado nisso.
- Já sabia o que eras! Desculpa se exagerei na outra noite, mas não deu para controlar… O cheiro que emanavas no sangue era demasiado tentador para resistir – disse olhando o seu braço enquanto salivava.
- O meu cheiro o quê? – Pensou que tinha sido má ideia abrir a porta! – E eu sou o quê? Sou uma pessoa normal, a tua ceita tentou matar-me! - Com as lágrimas nos olhos – A tua ceita tentou matar-me!
- A ceita… O que chamas de ceita, chamo de família! - Disse enquanto se sentava calmamente no sofá ao seu lado, como nos tempos em que o partilhavam para conversar ou ver um filme.
Svetlana sentia o corpo gelado e quanto mais calmo ele se encontrava, mais medo sentia por o ter deixado entrar.
Ele olhou-a com um ar doce, sorriu friamente.
- O gancho que usas… - disse sem se aperceber que ela não percebia.
- O que tem? Queres o gancho do lobo? – Não conseguia entender a sua obsessão no gancho que sempre usara.
- És da família dos Lobos… És um lobo! – Pensando no que acabara de pronunciar, arrepiou-se e rosnou.
Ela ficou estática, só lhe apetecia ligar para a polícia e dizer que tinha um louco em casa. Quando Anton se apercebeu dos seus pensamentos agarrou-a e levou-a para o quarto. Amarrou-a à cama, tirou do sobretudo o punhal e apontou-o mais uma vez ao braço já ferido.
Ela gritou e lutou! Mas de nada lhe restava, encontrava-se presa e ele olhava-a com um olhar negro e a raiva preenchia-lhe o rosto. Não havia ali nada, para além do desejo de a matar.
- Anton não! Eu não sou um lobo! – O olhar de Anton escurecia e ele salivava enquanto lhe lambia o rosto.
- Se não és um lobo, posso te matar! – disse com um sorriso nos lábios, rasgando a sua roupa.
- Eu não sei do que estás a falar Anton! – As lágrimas preenchiam-lhe o rosto e Svetlana gritava tentando se libertar.
Ouviu-se um ruído, algo estava errado no quarto. Anton sentia uma presença naquele quarto para além da dos dois. E Svetlana gritava pedindo por ajuda.
Apareceu um lobo à porta do quarto, um lobo de pelo cinzento que rosnava ferozmente a Anton enquanto a saliva lhe escorria por entre os dentes.
O Lobo saltou e rasgou a garganta de Anton que espirrava sangue para o corpo nu de Svetlana, que se encontrava presa à cama. Ela fintou o lobo! E nele reconhecia o olhar… Gritou!
- Mãe não!
(continua…)


Marlene

2 comentários:

  1. Nossa! Está ficando cada vez mais macabro e surpreendente... Estou adorando!
    Aguardo ansioso o próximo capítulo, quase com um frio na espinha.

    Um beijo e uma alegria pra você, amiga querida.

    PS:
    Sinto sua falta no Luso.

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  2. Olá Marlene,

    Concordo totalmente com os elogios do Caio.

    Deu-se uma analepse e vimos como as duas personagens principais, até agora, se conheceram.
    Quem diria que Anton era policia e um lobo? E que aquele gancho seja a peça principal da história até agora?

    Está sublime! Estou a adorar!! Vejo uma admiração por Moscovo, estou certa?
    Consigo imaginar perfeitamente a história diante os meus olhos, sinto-me como sendo um figurante pontual.

    E não poderia acabar melhor este capitulo, com a vinda da mãe de Svetlana em defesa da sua cria.
    Talvez Anton esteja a pressioná-la para esta soltar os seus instintos animal, se é mesmo um lobo.

    Aguardo também ansiosamente pelo próximo capitulo.

    Um grande abraço,
    Rute.

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