Bem Vindo ao Letras Doces!

O Letras Doces contém Poemas, Frases, Pensamentos... Escritos de forma doce... outras vezes um bocadinho mais amarga. Trata-se de uma transmissão de sentimentos. Espero que se sintam em casa e que respeitem os direitos de autor.

sábado, 23 de julho de 2011

*Anjo Negro* Cap. I



Era de noite, e ele espreitava enquanto ela descia a colina em direcção a casa...

A Svetlana era uma rapariga jovem, vivia nos arredores de Moscovo, tinha os cabelos castanhos que usava sempre atados e presos com um gancho que lhe tinha sido oferecido por sua mãe antes de morrer. Todos os dias descia a mesma rua, quando saía do trabalho em direcção às aulas.
Eram 20h15, e Svetlana ia atrasada, hoje o seu patrão tinha-lhe pedido para terminar mais uma papelada até tarde e as aulas tinham começado já á 15 minutos. Mas no seu andar descontraído e quase de corrida, ela caminhava pela mesma rua, com o passo um pouco mais acelerado.
Tocava o sino da igreja, eram 20h30, e Svetlana perdia-se nos seus pensamentos ao caminhar, todos os dias que ali passava encontrava-se o mesmo homem sentado nos degraus da Igreja com flores à espera do seu amor. Um sorriso passou-lhe pela cara, recordou-se que depois das aulas, Anton a aguardava com um jantar aquecido e uma garrafa de vinho e aí o passo abrandou.
Chegou ao edíficio, só umas salas é que mantinham as luzes acesas, apressou-se a subir os degraus e entrou na sala sem fazer um ruído para não darem por ela, o professor continuou como se nada fosse.
Sua colega e amiga Olga, sorriu quando viu que Svetlana tinha aquele sorriso bobo na cara de quem iria ver o Anton.
Anton era um rapaz bem-apessoado, era alto com os cabelos castanhos mais claros e uns olhos escuros que faziam com que Svetlana se perdesse em cada olhar.
Saíram da sala, Olga despediu-se de Svetlana e advertiu-a que deveria de tomar atenção às atitudes do Anton, pois ele guardava em si algo de diferente.
- Olga, não sejas paranóica! Claro que ele e diferente é belo e ama-me mesmo sabendo todo o meu sofrimento e as minhas loucuras com a morte da minha mãe… - disse Svetlana, pensando com uma lágrima a escorrer-lhe o rosto – Ele ama-me!
- Mas de qualquer forma deverias de ter cuidado… - disse Olga, pensativa.
E lá ia Svetlana, pelo mesmo caminho retornando pela Igreja onde se encontrava o mesmo homem com as flores já murchas, lamentando enquanto pintava o chão…
Ela ia num passo apressado, quando sentiu alguém que contornava os mesmos edifícios que seguia, que calcava o chão ao mesmo passo ritmado e que lhe puxou e agarrou o casaco. Deu um salto, gritou e esperneou batendo com a mala e gritando!
-Sou eu querida! – Disse Anton com a voz soando a mel e com o seu olhar negro fitando os seus olhos que lacrimejavam e que se alteraram quando se aperceberam que era ele, o seu amor.
- Anton… Mas eu pensava que… - Sentiu-se ridícula, e corou ao reparar em Anton.
Anton vestia uma blusa justa que deixava ver os contornos do seu corpo, cada músculo. E o seu olhar cativava e fazia com que as suas pernas fraquejassem.
Svetlana abraçou-o e sentiu-o frio e distante, olhou de novo para ele e não conseguia decifrá-lo naquela expressão de quem nada sentia. Pensou no que Olga dissera e achou-se idiota por pensar aquilo. De novo um sorriso tomou-lhe os lábios…
- Vamos para casa? – perguntou enquanto o abraçava e beijava suavemente os lábios.
- Sim… Só tenho de passar num sitio, trabalho! – disse ele com o olhar frio e distante – Vens comigo?
- Claro querido! Onde fica? – disse Svetlana, achando que ele a levaria para jantar…
- É aqui perto, já vês – um sorriso de poder e malícia tomou-lhe o rosto gélido, com o olhar sereno…
Caminharam por zonas antigas de Moscovo, o olhar de Anton mantinha-se distante e o sorriso no rosto aumentava, passo a passo. Até que chegaram perto de um edifício que parecia abandonado, mas tinha luz.
Svetlana desconfiou que a morada fosse aquela, agarrou-se a Anton e caminharam para dentro do edifício. Olhou para cima e para baixo, dezenas de vezes tentado descobrir que edifício era aquele que se encontrava perdido no meio da cidade, com ar de caído e de tempos antes guerra.
Entraram, não havia ali ninguém. As luzes que viam do lado de fora, eram candelabros acesos e candeeiros pendurados no tecto, que era trabalhado com imagens de anjos negros que se amavam e tocavam.
No fundo da entrada estava um altar e um punhal que se encontrava ao lado. Juntaram-se homens vestidos como os monges, com capas até aos pés de cor carmim. Svetlana tremeu, pensou que se tinham enganado e quis voltar. Anton agarrou-a pelo braço e o seu sorriso abriu:
- É aqui querida! – A voz já não era tão doce, nela rosnava.
- Anton! Isto é uma ceita! – disse com os joelhos fracos, na ânsia que ele a tira-se dali no mesmo instante.
Os homens – monges aproximavam-se e cantavam uma melodia fúnebre, levantando o rosto e as mãos. Svetlana olhou para os seus olhos eram como os de Anton, negros! Ela tremia, o corpo estava gelado e a pele pálida como se já não se encontra-se sangue dentro das veias.
Anton pegou-lhe ao colo e colocou-a em cima do altar. Ela chorava compulsivamente, e lembrava Olga com o ar preocupado sem razão aparente.
- Olga… Porque não te dei eu razão? – As lágrimas cobriam-lhe o rosto.
O punhal estava levantado, ele espetou-lhe o punhal no pulso e sangrou-o para o cálice dourado, usado em tempos para servir a missa daquela igreja.
E continuaram a cair as lágrimas, enquanto a vida abandonava o seu corpo, via os homens – monges e Anton a deliciarem-se com o seu sangue enquanto os seus corpos se manifestavam diferentes. Eles pulsavam com cada gota que escorria pelos lábios.
E nisto a sua vida desaparecia…


(continua...)


Marlene

1 comentário:

  1. Marlene,

    Acaba de resumir todas as minhas palavras conhecidas num som fonético: UAU!
    Bravo!! Muitos parabéns!! Por momentos esqueci-me que estava num blogue, pois entrava num lindo livro de capa dura e antigo, aqueles livros misteriosos que nos despertam curiosidade, que parecem pedir que os leiamos. Entrei totalmente nessa história, lendo em voz alta enquanto dramatizava as falas de cada personagem.
    Foi inteiramente deliciante, uma aventura de chorar por mais!

    Contudo, aterrei bruscamente na realidade ao ver que já tinha acabado... mas, logo me confortou a sua palavra 'continua'.
    Aguardo ansiosamente pela continuação!

    Devo lembrar que é a sua primeira prosa que leio e fiquei muitíssimo fascinada.

    Conhecendo-me como me conheço, ficarei a pensar em mil e umas possíveis continuações.

    Adorei a imagem! A mesma já me serviu de inspiração para um desenho.

    Os meus aplausos, pela escrita, pela excelente qualidade, pela partilha, por tudo o que consegue despertar e trazer ao mundo real, parando-o enquanto escreve.

    Abraços e muitas felicidades,
    Rute.

    ResponderEliminar