Bem Vindo ao Letras Doces!

O Letras Doces contém Poemas, Frases, Pensamentos... Escritos de forma doce... outras vezes um bocadinho mais amarga. Trata-se de uma transmissão de sentimentos. Espero que se sintam em casa e que respeitem os direitos de autor.

domingo, 24 de julho de 2011

* Marés da Alma*



Cada suspiro, cada ar que inspirei,
Por cada gota de água,
Na qual morri e mergulhei,
Forneceu em mim mais a mágoa,
Que algum dia eu adornei…

Em cada gota que banhou a minha alma,
Por entre vagas ondas de inspiração,
Ao corpo que escondido sorria,
Perante tal imagem, contemplação,
Mergulhando mais uma vez na paixão…

Cada ponta de ar que expirei,
Tinha mais da calma,
Mais da essência que um dia eu observei,
O Mar tinha-me na sua palma,
Seguindo as marés que tanto amei…

E chorei! As lágrimas salgadas,
Que respirei quando me afoguei,
Matando parte de mim,
Agarrando as almas que habitei,
Penando pelas águas que eu britei…


Marlene

*Mar Salgado*



Oh Mar Salgado!
Que de minh’alma parte levaste,
Lá porque foste mal amado,
Porque não me ajudaste?
E no meu corpo choraste…

Oh Mar Salgado!
Que clamas o cântico da solidão,
Chamando para ti o garoto apaixonado,
Que não encontrou igual coração,
Esperando pela Sereia que o afogaria com paixão!

Oh Mar Salgado!
Que de mim tanto roubaste,
Com o teu cheiro aprimorado,
E as ondas que mataste,
Na areia que beijaste!

Oh Mar Salgado!
Que amo mais do que a mim,
Como o meu corpo levaste?
Se te chamo com voz carmim,
Nos jardins de corais de jasmim!

Oh Mar Salgado!
Leva minh’alma para junto da tua,
Quero sentir as tuas lágrimas,
Na pele calva e nua,
Que me envolvem e apazigua!


Marlene

*Anjo Negro* Cap. II



A Svetlana recordava-se do dia em que conhecera o Anton, numa tarde fria de Inverno no centro de Moscovo. Em que os flocos de neve enfeitavamm as ruas por onde passava.
Tinha entrado num bar com a sua amiga Olga para beber um copo de vinho quente e colocar os assuntos em dia.
Entrara um homem, enquanto as duas riam e brindavam com os copos. Era bem-apessoado com um sobretudo negro e um olhar…
Ele tinha-as observado e sentou-se ao balcão olhando para as jovens que conversavam. Olga sorriu e começou a dar cotoveladas a Svetlana, por aquele mesmo homem estar a observa-la de forma tão peculiar.
Após uns copos de vinho e de ter aquecido mais o corpo, porque os Invernos em Moscovo são bastante rigorosos, ela avançou em direcção ao homem de sobretudo e encarou-o com um olhar atrevido e um sorriso insinuante.
- Pagas-me um copo? - Perguntou Svetlana com o maior descaramento, ainda hoje se perguntava quantos copos teria bebido…
- Não! Não pago bebidas a jovens… - disse Anton com um sorriso gélido.
Quando Svetlana preparava-se para ir embora, ele agarrou-a por um braço mostrando a sua força e beijou-a. Ela ficou surpreendida, aquele mesmo homem que não lhe queria pagar uma bebida tinha-a beijado!
Os seus joelhos tremeram, deixou-se cair em seus braços quando ele a largou e abandonou o bar.
E durante uma semana ela pensou várias vezes no que acontecera, achando que não o voltaria a ver.
Estava em casa de sua mãe, enquanto aguardava pela sua chegada. A sua mãe fazia anos e Svetlana tinha comprado um pente lindíssimo em prata. A sua mãe tinha uns cabelos longos, fora do comum, negros e uns olhos claros como a água.
Recebera uma chamada, era Olga que lhe ligava a dizer que tinha ocorrido um acidente e sua mãe tinha morrido. Svetlana correu em direcção à morada dada por Olga.
Quando chegou encontrou Anton, qual não foi o seu espanto, ele era um policia que estava a investigar a morte e o acidente da sua mãe. Corou ao olhar o polícia, e lembrou-se que sua mãe encontrava-se ali estendida coberta com um lençol branco.
As lágrimas cobriram-lhe o rosto, agarrou-se a Olga e soluçava sem conseguir levantar a cabeça. Pediu para ver a mãe, estava pálida, e os seus olhos cor de água ainda se encontravam abertos, o cabelo negro estava agora com um tom escarlate misturado do sangue que escorria na testa.
Tinha mais um ferimento, no braço! Tinham-lhe dito que sua mãe, tinha-se tentado proteger do vidro quando embateu contra o armazém. E tinha perdido aí muito sangue.
Desde então começou a desabafar com o Anton, a encontrarem-se mais e a apaixonaram-se.
O gancho que lhe tinha sido oferecido no dia anterior da morte de sua mãe tinha desenhado um lobo dourado. E desde então Svetlana andava sempre com ele.
Enquanto a sua vida vazava, Svetlana recordou-se do gancho e murmurou a palavra L-o-b-o…
Anton rosnou, e quando Svetlana abria e fechava os olhos ao rever a imagem daquele homem que tinha amado, ele desaparecia mais o seu clã por entre as portas da velha Igreja.
Acordou no Hospital, o médico olhava para ela observando o corte no braço e murmurando algo que não entendia. Quando veio até si, estava zonza, olhou em redor do quarto e via Olga, as lágrimas cobriram-lhe o rosto quando viu sua amiga com um ar preocupado.
O médico chamava-se Nikolai, depois de sair do Hospital tinham ficado amigos e nunca mais tinha revisto Anton.
Numa noite fria de Moscovo, encontrava-se em casa a remoer sobre a sua vida nos últimos tempos, até que bateram à porta. Espreitou para ver quem era, quando o sangue começou a pulsar, a pulsar, a pulsar…
Bateram de novo, agora com mais força! Era Anton!
- Svetlana sei que estás aí abre a porta, ou abro eu! – disse ele com um ar irritado, rosnando a voz. Os olhos ainda estavam mais negros que o habitual.
Svetlana recordou-se da imagem de Anton a deliciar-se com o seu sangue e sentiu-se enjoada…
Bateram outra vez, desta parecia que iam partir a porta!
- Eu vou abrir, mas… - disse com um tom de apreensão.
- Abre ou abro eu! Se te quisesse matar, não me teria ido embora… - disse Anton, com um ar de malícia e um sorriso gélido nos lábios.
Ela abriu a porta, e Anton entrou com o seu andar calmo de predador.
Quando deu conta, ele estava em cima de si no sofá, olhando com os seus olhos negros lambendo os lábios vermelhos. Sim, os seus lábios eram vermelhos como o sangue e Svetlena nunca tinha reparado nisso.
- Já sabia o que eras! Desculpa se exagerei na outra noite, mas não deu para controlar… O cheiro que emanavas no sangue era demasiado tentador para resistir – disse olhando o seu braço enquanto salivava.
- O meu cheiro o quê? – Pensou que tinha sido má ideia abrir a porta! – E eu sou o quê? Sou uma pessoa normal, a tua ceita tentou matar-me! - Com as lágrimas nos olhos – A tua ceita tentou matar-me!
- A ceita… O que chamas de ceita, chamo de família! - Disse enquanto se sentava calmamente no sofá ao seu lado, como nos tempos em que o partilhavam para conversar ou ver um filme.
Svetlana sentia o corpo gelado e quanto mais calmo ele se encontrava, mais medo sentia por o ter deixado entrar.
Ele olhou-a com um ar doce, sorriu friamente.
- O gancho que usas… - disse sem se aperceber que ela não percebia.
- O que tem? Queres o gancho do lobo? – Não conseguia entender a sua obsessão no gancho que sempre usara.
- És da família dos Lobos… És um lobo! – Pensando no que acabara de pronunciar, arrepiou-se e rosnou.
Ela ficou estática, só lhe apetecia ligar para a polícia e dizer que tinha um louco em casa. Quando Anton se apercebeu dos seus pensamentos agarrou-a e levou-a para o quarto. Amarrou-a à cama, tirou do sobretudo o punhal e apontou-o mais uma vez ao braço já ferido.
Ela gritou e lutou! Mas de nada lhe restava, encontrava-se presa e ele olhava-a com um olhar negro e a raiva preenchia-lhe o rosto. Não havia ali nada, para além do desejo de a matar.
- Anton não! Eu não sou um lobo! – O olhar de Anton escurecia e ele salivava enquanto lhe lambia o rosto.
- Se não és um lobo, posso te matar! – disse com um sorriso nos lábios, rasgando a sua roupa.
- Eu não sei do que estás a falar Anton! – As lágrimas preenchiam-lhe o rosto e Svetlana gritava tentando se libertar.
Ouviu-se um ruído, algo estava errado no quarto. Anton sentia uma presença naquele quarto para além da dos dois. E Svetlana gritava pedindo por ajuda.
Apareceu um lobo à porta do quarto, um lobo de pelo cinzento que rosnava ferozmente a Anton enquanto a saliva lhe escorria por entre os dentes.
O Lobo saltou e rasgou a garganta de Anton que espirrava sangue para o corpo nu de Svetlana, que se encontrava presa à cama. Ela fintou o lobo! E nele reconhecia o olhar… Gritou!
- Mãe não!
(continua…)


Marlene

sábado, 23 de julho de 2011

* Morte da Alma*

“Invadida da minha escuridão,
Dançando descalça e nua ao som da música,
Balançando com a brisa névoa a canção,
Que me despedaça e quebra em solidão,
As notas afinaram para lá da minha verdade…”



Para lá dos sentimentos outrora contidos,
Agora espelhados num chão que calco,
Esmagando em pedaços de vidro,
O que outrora fui e alberguei,
No coração que giro a morte que tomei.

Já não há melodia que me desvende,
Pois eu já não conheço mais o amor,
Agora derramo no meu sangue,
Espesso e sem cor!
O veneno da amargura e dor!

E morri! Com lágrimas de sangue,
Que preencheram o meu rosto,
Esvaziando o meu corpo,
Da essência que mantinha a luz ténue acesa em mim,
Virando num cemitério o que em tempo foi o meu jardim…

Marlene

*Elementos*



Cativa-me o teu olhar que me desnuda,
Perante as marés que avançam turbulentas,
Sedentas do teu desejo que me empurra,
Para mergulhar nas ondas mais suculentas,
Das fantasias que alicias e experimentas…

São de fogo os olhares que me enleiam,
Na tua doce carícia de amor,
Com laços de ferro que me queimam,
Toda a inocência, todo o pudor,
Libertando de mim a criança e aumentando o fervor!

O teu olhar que viaja pelo meu corpo dentro,
Arrepiando a tez que se entrega,
Na brisa que lampeja o meu centro,
Estremecendo os joelhos que cedem como um escorrega,
Embriagados pelo néctar da tua adega…

Observas para lá de mim,
Inebriando a fome estampada no rosto,
Alterando o sabor de plantar um jasmim,
Num tom carmim composto,
Alimentando a terra que me ofereces com gosto.


Marlene

*Anjo Negro* Cap. I



Era de noite, e ele espreitava enquanto ela descia a colina em direcção a casa...

A Svetlana era uma rapariga jovem, vivia nos arredores de Moscovo, tinha os cabelos castanhos que usava sempre atados e presos com um gancho que lhe tinha sido oferecido por sua mãe antes de morrer. Todos os dias descia a mesma rua, quando saía do trabalho em direcção às aulas.
Eram 20h15, e Svetlana ia atrasada, hoje o seu patrão tinha-lhe pedido para terminar mais uma papelada até tarde e as aulas tinham começado já á 15 minutos. Mas no seu andar descontraído e quase de corrida, ela caminhava pela mesma rua, com o passo um pouco mais acelerado.
Tocava o sino da igreja, eram 20h30, e Svetlana perdia-se nos seus pensamentos ao caminhar, todos os dias que ali passava encontrava-se o mesmo homem sentado nos degraus da Igreja com flores à espera do seu amor. Um sorriso passou-lhe pela cara, recordou-se que depois das aulas, Anton a aguardava com um jantar aquecido e uma garrafa de vinho e aí o passo abrandou.
Chegou ao edíficio, só umas salas é que mantinham as luzes acesas, apressou-se a subir os degraus e entrou na sala sem fazer um ruído para não darem por ela, o professor continuou como se nada fosse.
Sua colega e amiga Olga, sorriu quando viu que Svetlana tinha aquele sorriso bobo na cara de quem iria ver o Anton.
Anton era um rapaz bem-apessoado, era alto com os cabelos castanhos mais claros e uns olhos escuros que faziam com que Svetlana se perdesse em cada olhar.
Saíram da sala, Olga despediu-se de Svetlana e advertiu-a que deveria de tomar atenção às atitudes do Anton, pois ele guardava em si algo de diferente.
- Olga, não sejas paranóica! Claro que ele e diferente é belo e ama-me mesmo sabendo todo o meu sofrimento e as minhas loucuras com a morte da minha mãe… - disse Svetlana, pensando com uma lágrima a escorrer-lhe o rosto – Ele ama-me!
- Mas de qualquer forma deverias de ter cuidado… - disse Olga, pensativa.
E lá ia Svetlana, pelo mesmo caminho retornando pela Igreja onde se encontrava o mesmo homem com as flores já murchas, lamentando enquanto pintava o chão…
Ela ia num passo apressado, quando sentiu alguém que contornava os mesmos edifícios que seguia, que calcava o chão ao mesmo passo ritmado e que lhe puxou e agarrou o casaco. Deu um salto, gritou e esperneou batendo com a mala e gritando!
-Sou eu querida! – Disse Anton com a voz soando a mel e com o seu olhar negro fitando os seus olhos que lacrimejavam e que se alteraram quando se aperceberam que era ele, o seu amor.
- Anton… Mas eu pensava que… - Sentiu-se ridícula, e corou ao reparar em Anton.
Anton vestia uma blusa justa que deixava ver os contornos do seu corpo, cada músculo. E o seu olhar cativava e fazia com que as suas pernas fraquejassem.
Svetlana abraçou-o e sentiu-o frio e distante, olhou de novo para ele e não conseguia decifrá-lo naquela expressão de quem nada sentia. Pensou no que Olga dissera e achou-se idiota por pensar aquilo. De novo um sorriso tomou-lhe os lábios…
- Vamos para casa? – perguntou enquanto o abraçava e beijava suavemente os lábios.
- Sim… Só tenho de passar num sitio, trabalho! – disse ele com o olhar frio e distante – Vens comigo?
- Claro querido! Onde fica? – disse Svetlana, achando que ele a levaria para jantar…
- É aqui perto, já vês – um sorriso de poder e malícia tomou-lhe o rosto gélido, com o olhar sereno…
Caminharam por zonas antigas de Moscovo, o olhar de Anton mantinha-se distante e o sorriso no rosto aumentava, passo a passo. Até que chegaram perto de um edifício que parecia abandonado, mas tinha luz.
Svetlana desconfiou que a morada fosse aquela, agarrou-se a Anton e caminharam para dentro do edifício. Olhou para cima e para baixo, dezenas de vezes tentado descobrir que edifício era aquele que se encontrava perdido no meio da cidade, com ar de caído e de tempos antes guerra.
Entraram, não havia ali ninguém. As luzes que viam do lado de fora, eram candelabros acesos e candeeiros pendurados no tecto, que era trabalhado com imagens de anjos negros que se amavam e tocavam.
No fundo da entrada estava um altar e um punhal que se encontrava ao lado. Juntaram-se homens vestidos como os monges, com capas até aos pés de cor carmim. Svetlana tremeu, pensou que se tinham enganado e quis voltar. Anton agarrou-a pelo braço e o seu sorriso abriu:
- É aqui querida! – A voz já não era tão doce, nela rosnava.
- Anton! Isto é uma ceita! – disse com os joelhos fracos, na ânsia que ele a tira-se dali no mesmo instante.
Os homens – monges aproximavam-se e cantavam uma melodia fúnebre, levantando o rosto e as mãos. Svetlana olhou para os seus olhos eram como os de Anton, negros! Ela tremia, o corpo estava gelado e a pele pálida como se já não se encontra-se sangue dentro das veias.
Anton pegou-lhe ao colo e colocou-a em cima do altar. Ela chorava compulsivamente, e lembrava Olga com o ar preocupado sem razão aparente.
- Olga… Porque não te dei eu razão? – As lágrimas cobriam-lhe o rosto.
O punhal estava levantado, ele espetou-lhe o punhal no pulso e sangrou-o para o cálice dourado, usado em tempos para servir a missa daquela igreja.
E continuaram a cair as lágrimas, enquanto a vida abandonava o seu corpo, via os homens – monges e Anton a deliciarem-se com o seu sangue enquanto os seus corpos se manifestavam diferentes. Eles pulsavam com cada gota que escorria pelos lábios.
E nisto a sua vida desaparecia…


(continua...)


Marlene

sexta-feira, 22 de julho de 2011

*Partida*


"Nas folhas que escrevi,
Pinguei gotas da seiva cor de carmim,
Para enviar aos teus olhos doces de mel,
Onde habitava a neblina,
Para lá do Olhar…"



Tentei-te desvendar para lá da visão,
Só com a alma a mergulhar nas profundezas do teu mar,
Onde me perdi, vagueei com aflição,
De não te ver mais com o ar a fugir, a sufocar,
A garganta que tremia só de te encarar…

Tentei! Agarrar-te pela emoção,
Abraçar os teus receios, enfrentar as imagens que tentas evitar,
Que te engolem, que te têm na mão,
Prestes a cair do abismo, a salivar,
O Amor em palavras a arfar…

Tentei não te largar,
Mas os teus olhos cor de mel soletraram a canção,
Do animal ferido ecoando fúnebre caiar,
Onde habitava para lá do véu a solidão,
Que amava o teu triste Ser em colisão…

Marlene

*Masoquismo*

De forma escarpada e desejada,
Anseio pelo doce veneno que pinga nos teus lábios,
Imploro por me sentir da tua parte amada,
Nesta dança desenfreada,
De dois escravos do prazer numa noite de ilusão…

Tentando e atentando o odor,
Que se libertava do corpo onde passavas com a mão,
Emano, efervescendo o calor,
Reclamando em ti a dor,
Que me faz desejar mais ainda a tua acção…

Com suaves toques de violência,
Empurras e agarras a pele que se debate por manter nua,
Marcada pelos sinas de carência,
Desencarna a sua abstinência,
E oferece em deleite a carne, outrora sua…

Num vai que não vem, o amanhecer,
O enrijecer dos corpos coloca a tez dura!
O som começa a desaparecer,
O silêncio quer permanecer,
O embate que apazigua, a nossa noite de loucura!


Marlene

*Insano*


Na calada da noite sinto a tua vigia,
Que pulsa em todo o meu ser,
Que ecoa com os sons mais frios da poesia,
Fazendo o meu corpo implorar por mais prazer,
Nas lacunas da escuridão do meu querer…


E são constantes os toques do meu viver,
Que queimam inspirando o teu olhar,
Que obriga o meu corpo a morrer,
Pelo veneno que escoa no beijo que me queres dar,
Com o sangue entoando o ofuscar.


Verti outrora lágrimas com a loucura a desabrochar,
O pano caía e eu mais e mais queria,
Desse olhar que me esmagava ao tentar violar,
Que bebia todo o sangue com a ousadia,
De um insano que me desejava amar!


Na calada da noite já senti vezes sem conta a tua vigia,
Sem se quer me importar,
Quem precisa de anjos e da alegria?
Contigo são incoerente que me quer sugar,
Toda a vida por um prazer que anseio optar!

Marlene

*Rainha*

“Para lá das minhas linhas,
Das margens em que te antevejo,
Caído no chão à espera do cortejo,
Que alcança as badaladas das Rainhas,
Que calcam as calçadas branquinhas!”


Foram os desejos,
Que moveram o mundo em que ainda giro,
À espera do teu ombro, de um abrigo,
Para chorar essas mesmas lágrimas de sangue,
Que não param de caiar…

Sim! Habitaram-me desejos,
Onde de negro vestia a minha pele macia,
Para o teu beijo que tanto acaricia,
A minha doce malícia no pescoço,
Como se sugasses deles maresia…

E foram esses mesmos desejos,
Que me lamentam o pensar,
Por deles tirar o prazer de amar,
Para além e aquém da escuridão,
Em noites que calco as calçadas na multidão!

Marlene

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Aperto de Amor ( Dupla Caio e Marlene)

Ainda te sei aqui amor,
Por entre vales de tortura e amargura,
Que me fizeste escrava da tua loucura,
Engolindo em cada beijo de despedida a dor…
De te ver uma última vez sedutor…


Ainda te sinto o cheiro da ternura,
Com que me aliciaste em noites de calor,
Para os lençóis caiados agora de bolor,
Choram a falta da tua procura,
E dos corpos que inflamavam da jura…


Marlene

(...)
Meu grande amor, estás distante e invisível...
Balas perdidas se encontram em peitos aliados
E últimos suspiros é o que mais tenho escutado...
Mas tenho a força que me dás, sou invencível!


Os nossos papéis são o meu único elo
Nesse mundo de sangue, suor e mortalha
Partilhas a corrente, amor, em pararelo
Sofrendo minhas dores em diferente batalha.


Eu volto, te juro, tenhamos paciência,
Creia comigo que a fé remove a montanha...
Enquanto me esperas, chorando a ausência,
Te sonho ao meu lado na cama de campanha.


Caio

quarta-feira, 20 de julho de 2011

*Heart*



Ainda a sinto a pulsar dentro de mim!
Rasgando o meu eu mais profundo,
Matando todo o meu jardim,
Que construí com navalhas cravadas de jasmim,
Albergadas no som do meu mundo…


Foram belas as melodias que colhi,
Para saborear no balançar de um vento,
Seguindo o rumo que avistava para lá do horizonte,
Tão perto e tão longe,
Que morreu como uma linha no escuro…


Sim! Ainda me corrói,
Todo o corpo ainda dói!
Do sangue outrora plantado,
E agora morto e caiado,
Tingindo o meu jardim de escarlate…


E eu ainda a sinto a pulsar dentro de mim,
Comendo a alma que me habitou em tempos,
Remota dos temporais, dos ventos,
Agora Seca, caída lá dentro,
Numa casa vazia, onde tudo gira!


Marlene

*Desilusão*

"A tristeza que se afunda perante o meu olhar,
São gotas que me sentem,
Que sangram toda a desilusão…"



Esta noite sou acompanhada pela solidão,
Que se faz sentir mesmo com o teu sorrir,
Para lá da escuridão,
Que albergo no meu coração,
Por respirar e por existir!

Não há amor que me afague esta paixão,
Que matei com os dedos das minhas mãos,
Sufocando o pescoço,
Magoei-me mais do que impugnava,
Ah! Maldita solidão…

Queria um abraço teu,
Para poder sentir que me vês para lá da visão,
Que me amas mesmo não valendo um tostão,
Na roda da fortuna despida,
Perante nós, perante a vida,
Que carrego gravemente ferida…

Mas não! Restam apenas cinzas da solidão,
Que insiste em levar-me e amar-me sem compaixão,
Rodeando-me de esperança,
Marcando em mim a criança,
Atando-me em seu colchão…

Marlene

terça-feira, 19 de julho de 2011

*Palavras de Poeta*

“O poeta, de facto, só é uma pessoa como as outras na fisiologia. Et quand même…, Antoinin Artaud já nos preveniu de que poderia, até mesmo aí, ser diferente”

De O Livro de Cesário Verde, António Barahona, Posfácio



São tantas as palavras que o vento albergou,
Das flores que ainda se fazem criar,
Por entre os campos caiou,
Pedaços de pétalas de mar,
Que o tempo vincou nas brochuras com o salivar…




Nas montanhas assolou um único contemplar,
Que as flores lhe matou,
No jardim que ainda estava a formar,
As palavras que com as boninas partilhou,
Avassaladas pela corrente que inalava no ar…




São tantas as palavras que o vento albergou,
Levadas pela morte que insiste em amar,
Um poeta que ganhou asa e voou,
Para lá das vistas do meu olhar,
Onde enterrou todos as farpas que conseguia trovar…

Marlene

*Silêncio(s)*

Hoje não te abro a porta,
O meu coração ainda ressente da tristeza,
Da mágoa em cada cicatriz escondida,
Com que me marcaste com a frieza,
As carícias de silêncio da tua destreza…

O meu corpo ainda se perfaz da gentileza,
Com que a tua boca se rendeu à calada da ignorância,
Desvendando em ti a subtileza,
Que enlouquecia a minha tolerância,
Enquanto engolias o que não dizias com elegância…

Sim! O coração ainda sente a distância,
Que foi criada pelo silêncio e não pela alusão,
De carícias farpadas pela petulância,
Dos olhos que agoniavam a aflição,
Quando mentiam com as palavras escondidas na mão…

Por isso hoje não te abro a porta do meu coração,
A minha alma ainda se está a refazer,
Não, que eu não te ame mais… Não!
Mas primeiro tenho que te esquecer,
Para te voltar a reconhecer…

Marlene

segunda-feira, 18 de julho de 2011

"A vida dá voltas e voltas, e eu encontro-me sempre no mesmo sitio à espera do dia em que a vida me leve consigo!"

domingo, 17 de julho de 2011

*Lágrimas de Amor*

“As lágrimas cobrem-me o rosto,
Quando não vejo o teu olhar,
Que faz sentir em mim o toque límpido,
Das mãos que me tentam sempre desvendar,
Nas fantasias que crias ao amar…”



Caem lágrimas que me cobrem com o sal do teu mar,
Que guardam em si cada sonho, cada desejo,
Cada beijo, cada toque!
Da tua pele queimando na minha,
Pelo desejo que em nós ardia…




Cada gota tem uma parte da minha essência,
Que devoto na tua ausência,
Ansiando pelo momento que voltarás para mim,
Sem expectativas soltas, sem palavras programadas,
Apenas com o brilho que me dirigias em cada olhar teu!




Caem lágrimas que me cobrem com o sal do teu mar,
E cada uma guarda memórias do que outrora viveste,
Do que depositaste no meu corpo, na mente…
De como aliciaste os meus sonhos a encontrarem os teus,
Do teu amor outrora meu!



E cada gota lembra-se de ti,
De cada traço do teu rosto, da cada linha do corpo,
Que com os meus dedos eu descobri,
Delineando versos e poemas…
Que me secam as lágrimas que hoje senti!



Marlene

*Espaço e Tempo*



Hoje o pensamento encontra-se longe,
Tentei agarrá-lo mas fugiu para lá de mim,
Brincando e voando com o vento,
Deixou-me caída, vencida num tormento,
Enquanto as memórias me soavam a ti!

Distantes pelo espaço e pelo tempo,
Encaro breves instantes como fragmentos do que vivi,
Como os beijos que me roubaste quando os lábios escondi,
Agora albergo sentimentos dos quais não entendo,
E recupero os momentos em que em ti me perdi...

Num rodopiar de sentimentos,
Sinto na pele o aroma que me ofereceste,
Onde o teu se encontra vivo e bem presente,
Recordando as nossas juras em noites de Amor...
Hoje o pensamento está longe...

Marlene

sábado, 16 de julho de 2011

*Oceanos de Olhares*



Foram oceanos de olhares,
Por onde os meus olhos navegaram…
E se debateram contras as ondas dos demais,
Envoltos nas sombras salgadas mergulharam,
Nos sonhos de contemplares, eles brotaram…

Para lá das águas cristalinas desvendaram,
Esses mesmos olhares que continham mais da expressão,
Onde muitos em tempos naufragaram…
Mas que não se aventuraram para achar a canção,
Que lhes definia o brilho da emoção…

Sim! Foram oceanos de olhares,
Os que navegaram para lá da minha e da tua solidão,
Estimulados pelas pedras de sal que caiaram,
Embalados com os ventos que lhes afagavam o coração,
Presos ao cântico que os consumia em implosão…

Para lá das mesmas águas cristalinas estão as almas,
Que nesses mesmos olhares os meus olhos avistaram,
Num reflectir de sonhos,
Os demais encantaram,
Nas águas que caiaram…

Marlene

Sonhos de Amor



Hoje escrevi-te palavras de Amor.
Para lá da dor que sinto longe de ti,
Sem saber onde encontrar o meu benfeitor,
Agarrei-me ao poema que te escrevi,
E pedi ao vento que voasse até ti!



Nesta distância sem esperança,
Que nos consome de tempo que poderíamos viver,
Sinto o teu toque no silêncio da noite,
Que insiste em se manter,
Sem me deixar esquecer…



Neste espaço onde não te descubro,
Onde só há uma alma e não um corpo,
Vou de encontro ao que me procurava,
Que durante a madrugada me afagava,
Sussurrando palavras de amor…



E neste eterno desvio dos nossos troncos,
Faço-me virgem perante a lua,
Roubo da minha identidade a mulher nua,
A essência que foi e que é para ti,
Nesta aventura que continua…



Hoje escrevi-te palavras de Amor,
Acho que o vento chegou ao teu encontro,
Onde pela primeira vez conheci,
O beijo que outrora já senti,
Nos sonhos do tempo e do espaço em que te perdi!



Marlene

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Carícias de Odores

Tocada por doces pétalas engelhadas,
Húmidas no néctar do odor do teu corpo,
Sinto nos ossos tremules gargalhadas,
Que me falam no silêncio das palavras,
Dos desejos da tua imaginação…



E escutando os cânticos escondidos,
Que ressaltam da tua mão, na Paixão,
Agarrando os teus suores esculpidos,
Por anseios cada vez mais vivos,
Vou de encontro ao teu aroma esquecido…

Mergulhando mais uma vez nos lençóis despidos,
Só com o físico em suplício!
Os lábios imploram pelos teus encarecidos,
Dos beijos de amor ardidos,
Que choram soltando por ti um gemido…

Ah e tuas mãos! Que agarram a cintura frágil e nua!
Balançando-se nela como um gáudio…
Como se fosses dono, a dança continua,
Por mais um dia e por mais uma Lua,
Em doces oscilações de Amor!

Sentindo o prazer do toque de suaves flores,
Que ardem resplandecentes de emoção,
Os corpos emitem continuamente odores,
Implorando por mais tambores…
Rufando na cama da escravidão!


Marlene

Olhar para trás

Direcciono o olhar nos quadros que pintei,
Nas telas que vivi, nas pinturas em que me avistei,
Em que nasce e morri,
Tantas mais vezes do que as que contei!


Ah! Se me recordo dos momentos,
Em que fui uma e depois a outra,
Em que abracei queixumes e sofrimentos,
Em que beijei gáudios e doces sentimentos.


Como foste tão diferente!
Na loucura, destemida!
E na verdade tão contida!
Mereceste cada dia dessa tua, minha vida!


Ainda olho esses quadros que pintei,
De aguarelas fortes e sem cor,
Que emitem através de desenhos outras melodias,
De quem fui, de quem perdi em mim nestes dias!


Hoje estou a pintar um quadro,
Ainda não sei que cor lhe hei-de colocar,
Mas tem de conter amor!

Marlene

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Saudades de Amor

“As pétalas de amor secam,
Com a tua ausência, carrego a dor,
E a esperança da flor renasce,
Quando sinto no aroma o teu calor…”




Hoje o frio persiste em ficar!
Balançando para lá e para cá da minha janela,
Tortura a alma por não te encontrar…
No quarto sou cúmplice da saudade que albergar,
E o silêncio das palavras perdura para lá de mim…


Visto o nosso Inverno num preto de cetim,
Reclamo com o sentimento que me faz chorar,
Que lembra ao meu corpo o gelo no meu Jardim,
Outrora verde e florido pela Inocência do Jasmim,
Agora impotente por não te tocar…


Hoje o frio persiste em ficar!
E nos nossos lençóis ainda se avistam pétalas de amor,
Que caíram de cada vez que usaste o verbo amar,
Para queimar-me de desejo e acariciar,
Enquanto eu morria e sentia-te dentro de mim…


Mas a primavera está quase a chegar!
E ainda anseio pelos dias em que voltarei a ser tua Delfim,
Para satisfazer as tuas fantasias e dançar,
A mais bela melodia com que me irás aliciar,
E num balanceio afago o frio que quer me gelar…


Marlene